24.5.07

Alforria




Vestiu-se de tudo aquilo que alimentara durante anos.
De adorno a mais, somente o brilho dos olhos, inevitavelmente cintilantes - reflexo diverso daqueles outros, d’outros tempos d’água.
Suspirou fortemente, como que para romper com a censura daquele silêncio há tanto tempo proclamado.
Admirou-se, mais uma vez, de tudo o que via.
Mais ainda do que sentia.
Reconhecia-se, finalmente, ela – e só.
E aquela, a liberdade por tanto tempo apenas sonhada, agora, tomava-lhe em explosões.
Invadia-lhe.
Profundamente.
Percorria-lhe as veias rompendo histórias,
Inaugurando horizontes,
Redescobrindo naquele, outros suspiros.
Julgava-se, enfim, inocente de suas horas
Restaurava em si a desconhecida que, agora,
Não mais estava disposta em deixar, no tempo, se perder.



(Elora Rafaela)





Post Scriptum:
Sonhe.Sempre





20.5.07

Panapaná


Em sinuosa desarmonia


Dançam as borboletas.





Asas e cores.




Leveza e dessincronia, nessa agonia


brincam em rodízio,

do estômago


ao céu.







Recriam flores,

despertam rubores...




Rodopiam ansiosas, as borboletas.



Milhares delas.
Dentro de mim.


(Elora Rafaela)





Post Scriptum:
Sonhe.Sempre



18.5.07

Ad eternum




Guardavam dentro de si a certeza de um reencontro.
O tempo era outro. A razão, talvez, outras razões seguisse.
Eram crianças naquela estória só há tão pouco nascida.
Eram nuvens que tão facilmente dissipavam-se, bastasse um arremedo de sol...
O silêncio do que não se esperava, eles eram.

Desejavam-se.


Haviam secretamente escolhido aquele compromisso,
De afeto e de estrelas,
De ouro e de sonhos,
De amor em oblação.

Amaram-se. Bem mais que o tempo e as palavras acordadas.


A delicadeza da eterna espera, viveram.

(Elora Rafaela)

Post Scriptum:
Sonhe.Sempre



8.5.07

De Tudo o que se Perde

Por tanto tempo alimentou-se de saudade. E só.
À ela bastava a lembrança de um tempo bom. Embora à noite, a culpa pelo fim lhe rondasse, como que para privá-la dos carinhos dos sonhos que desejava ter...
Desde há muito não recebia notícias. Não fugia delas, é bem verdade, mas aquela falta de sinais dotavam-lhe do que, julgava, ser a superação de tudo o que havia ocorrido.
Pensava haver inaugurado um novo tempo em sua vida. Tinha certeza disso até aquele telefonema: uma frase solta no meio de várias, e em nada prestou mais atenção; seu coração saltara descompassado. Uma notícia que não esperava. Seu passado lhe voltava em tormentas internas - uma chaga aberta no meio do peito. E o estômago lotado de borboletas em carrossel. Será?
Depois de tantos anos seria possível? Pensava ainda se poderia consertar tudo o que fizera, se poderia esquecer tudo o que escutara. Se havia uma chance, pensava ela, poderia tentar?
Não sabia o que era maior, se a euforia pela possibilidade de mais uma vez arriscar ou - ao avesso de si - a frustração de perceber que não mudara em nada tudo aquilo que um dia sentiu; sentia-se enganada por si, e não tinha bem certeza se não gostava disso.
Achou-se louca por construir tantos castelos em superfície tão frágil – sequer tinha o direito de conjecturar! Então continha-se. Por um segundo. E depois, voltava às torres a levantar...
Alguns outros segundos e, estava decidida, ia se posicionar. Estava certa de que sua hora era aquela, finalmente, e agradecia à Deus pelo que aprendera, apesar de tudo.
Um minuto depois já havia desistido; e, no minuto seguinte, retomado à estratégia n’outrora traçada.
Fez-se de minutos.
Desfez-se em cada um deles...
Foi quando o celular tocou e o nome não esperado, ou melhor, mais que esperado, revelou-se na tela.
Era ele.
Pensou em tudo e em nada. Nada sabia do que dizer.
Pensou ainda em não atender, mas não se perdoaria. Todo aquele tempo de espera e de noites mal dormidas resolver-se-ia ali, ou pelo menos, seria o primeiro passo.
Sentiu a boca seca, a mão inerte, o corpo entorpecido: era hora, não podia esperar, até que...

Acordou.

Outra noite, em que desejos e expectativas a torturaram...

Outro sonho que, como a realidade – evanescente - ensaiava suas horas no mesmo lugar.



(Elora Rafaela)




Post Scriptum:
Sonhe.Sempre


6.5.07

Das Cinzas




E naquele instante desprendiam-se as mãos, as horas, o tudo.


O nada havia.


Inerte, eu consentia.


Incomodava-me de mim, ali, observando
sem saber qual sonho, agora escudo,
seria preciso, das cinzas, soerguer.

O caminho não mais existia ou, se existia, conduzia a lugar nenhum.
Parte de mim perdia o que um dia quisera, e o resto, o que eu ainda era,
desejava, ainda, se perder.



(Elora Rafaela)



Post Scriptum:
Sonhe.Sempre

Do sentir





A que sente, pressente.


Amálgama de sensações, desejos, emoções:


Humana.


Artista de contos não representados.


Imperfeita. Constantemente desfeita...


Rarefeita.




(Elora Rafaela)



Post Scriptum:
Sonhe.Sempre




Sobre as Cartas (em drops)





Das cartas que fez, guarda ainda a entonação


Feito canção, repete as notas do que se foi:


até que se acerte o refrão, ou


das palavras não ditas, se o reinvente.



(Elora Rafaela)




Post Scriptum:
Sonhe.Sempre